A cirurgia pré protética pode ser definida como um conjunto de procedimentos cirúrgicos para que arcada dentária tenha condições de receber uma prótese.

O osso alveolar é dento dependente, se forma durante o processo de erupção dentária e desaparece gradualmente após a perda dentária, devido ao fato de não responder mais as tensões que eram exercidas pelos dentes e ligamentos periodontais. O uso de prótese tende a acelerar o processo de reabsorção e afeta mais a mandíbula do que a maxila, devido a área superficial ser mais reduzida e da distribuição menos favorável das forças oclusais.

A retenção e a estabilidade da peça protética está relacionada com a morfologia e a saúde dos tecidos moles e duros que constituem a área de suporte da prótese, em algumas situações não é necessária intervenção cirúrgica, em outras, se faz necessário uma cirurgia de reparo sobre os tecidos (moles e/ou/duros) da cavidade oral para que o suporte adequado para a instalação da prótese seja mantido.

O ideal é que a prótese esteja suportada sob tecido firme, sem inserções musculares, protuberâncias ou hiperplasias, dessa forma, o correto exame clinico e complementar é de extrema importância para que seja diagnosticado algumas condições/situações para a verificação de quais procedimentos cirúrgicos devem/podem ser realizados sobre os tecidos moles ou duros.

Tecidos Moles

O tecido que recobre a área de rebordo alveolar deve ser queratinizado e aderido ao osso subjacente da área de suporte para oferecer estabilidade da base da prótese. O vestíbulo deve estar livre de áreas cicatriciais, ulceradas e tecido hiperplásico e o fundo do vestíbulo deve ser flexível e sem irregularidades para permitir um selamento periférico eficiente. A face língual da mandíbula deve ser inspecionada para determinar o nível da inserção do músculo milo-hióideo em relação a crista do rebordo mandibular e à inserção do músculo genioglosso na região anterior da mandíbula. A movimentação da língua, acompanhada pela elevação dos músculos milo-hióideo e genioglosso, é causa frequente de movimentação e deslocamento da dentadura inferior. Podem ser diagnosticados as seguintes alterações em que pode ser necessário intervenções cirúrgicas:

  • Hiperplasias fibrosas inflamatórias, causadas por traumas, muitas vezes, devido ao uso prolongado de prótese, sem suporte ósseo.
  • Inserções musculares e freios labial
  • Vestibuloplastias
  • Bridas cicatriciais
  • Hipertrofia do sulco vestibular
  • Hipertrofias de mucoperiósteo, bordos moles e rebordo mandibular fibroso
  • Hiperplasia na tuberosidade
  • Hiperplasia papilar inflamatória

Tecidos Duros

Para avaliar o tecido ósseo de suporte, além da inspeção visual e palpação, devem ser realizados exames radiográficos, para compor o diagnostico, como a radiografia panorâmica dos maxilares, que irá proporcionar uma visão geral excelente para a avaliação das estruturas ósseas remanescentes, lesões ósseas patológicas, dentes impactados, restos radiculares, e seio maxilar. Além disso, Muitas anormalidades ósseas são mascaradas devido as inserções musculares e de mucosas muito próximas à crista do rebordo e não são visíveis a palpação ou inspeção visual. Deve-se observar a presença de tórus palatino, irregularidades grosseiras, exostoses vestibulares. Não deve haver nenhuma irregularidade ou protuberância óssea grosseria na área do rebordo alveolar, vestíbulo ou abóboda palatina que impeça a inserção correta da prótese. Podem ser diagnosticados as seguintes alterações em que pode ser necessário intervenções cirúrgicas:

  • Exodôntias e alveoloplastia
  • Exostoses e cristas em “lâmina de faca”
  • Torus palatino e mandibular
  • Tuberosidade maxilar hipertrofiada
  • Apófise geni e crista milohioideia hipertrofiadas
  • Aprofundamento do nervo mentoniano
  • Processo alveolar proeminente
  • Tuberoplastias e zigomatoplastias
  • Plastias de aumento
  • Discrepância nas relações intermaxilares
  • Raízes, dentes inclusos e quistos residuais

O tipo de cirurgia pré-protética também depende do tipo de prótese a ser instalada (fixa, removível, total, implantes) e pode ser primária (antes da construção da prótese) ou secundária (após a reabilitação oral), entre elas estão:

  1. Tecido ósseo:
    1. Exodontias múltiplas Alveoloplastia
    2. Tuberoplastias (redução de tuberosidade)
    3. Regulação das exostoses
    4. Remoção de torus maxilar e mandibular;
    5. Enxertos ósseos.
    6. Redução da crista milo-hióidea
    7. Redução do tubérculo geniano
  2. Tecido mole:
    1. Hiperplasia fibrosa;
    2. Frenectomia labial e lingual;
    3. Bridas musculares;
    4. Aprofundamento de sulco
    5. Remoção de tecido com hipermobilidade
    6. Redução de tuberosidade maxilar

Entre as cirurgias pré-protéticas, há o aumento de coroa clínica, que é um procedimento executado para permitir um preparo dentário apropriado, procedimentos de moldagem e o posicionamento das margens restauradoras e para ajustar os níveis gengivais, visando a estética, recuperando ou mantendo o espaço biológico. (Borghetti et al., 2011)

A cirurgia pré-protética consiste então em um conjunto de procedimentos cirúrgicos para que a arcada dentária tenha condições de receber uma prótese fixa ou removível, total ou parcial e existem uma variedade de indicações e esta irá ditar qual o tipo de procedimento a ser realizado, com a finalidade de que a prótese dentária encontre condições ideais para uma boa adaptação, melhorando a função, estética, suporte e estabilidade.

 

Referências

Borghetti A, Monnet-Corti V. Cirurgia plástica periodontal. 2a ed. São Paulo: Ed. Artmed; 2011.

HUPP, J. R.; ELLIS, E. TUCKER, M. R. Cirurgia Oral e Maxilofacial Contemporânea. Elsevier, 6ed. 2015