A excelência no processo de cicatrização dos tecidos moles e duros tem sido o objetivo de diversos estudos relacionados a engenharia tecidual, suportada pela tríade que reúne os componentes principais a saber: células tronco, arcabouço e fatores de crescimento (OLIVEIRA et al., 2011). Dentro desse contexto, o uso dos agregados plaquetários na Odontologia tem sido investigado para possibilitar a sua utilização em procedimentos regenerativos. A principal meta da obtenção dos agregados é conseguir em uma amostra de sangue todos os elementos que possam ser utilizados para a promoção da angiogênese, hemostasia e controle local da inflamação, tais como: plaquetas, leucócitos e citocinas (AGRAWAL, 2017).

Entre os produtos de agregados disponíveis para o uso clínico em Odontologia, surge a Fibrina rica em Plaquetas e Leucócitos (L-PRF) e foi inicialmente relatada na França, por Choukroun et al. (2001). Essa terminologia foi proposta por Dohan et al. (2009a) que classificaram os agregados plaquetários de acordo com o teor de leucócitos e plaquetas. Oliveira et al. (2018) sugeriram uma denominação autoexplicativa ao produto biológico sem limitação ao método específico. Ponderaram a composição e aplicação terapêutica com uma explicação didática deste agregado sanguíneo, nominando-o como: Fibrina Leucoplaquetária Autóloga.

A técnica para a obtenção do L-PRF é considerada simples, segura, de baixo custo e sem adição de quaisquer outras substâncias. Trata-se de um biomaterial natural e 100% autólogo e que não oferece riscos de transmissão de doenças ou rejeição por parte do organismo receptor. O protocolo original consiste na coleta de sangue autólogo por punção intravenosa, sem adição de qualquer anticoagulante, em tubos revestidos de vidro de 10 ml que são imediatamente centrifugados a 3.000 rotações por minuto (RPM) durante 10 minutos (DOHAN et al., 2006a) ou a 2.700 rotações por minuto (RPM) por 12 minutos (DOHAN et al., 2018).

Devido a ausência de anticoagulante, a velocidade de coleta do sangue e a transferência para a centrífuga é de extrema importância, uma vez que em minutos ocorre a ativação das plaquetas e a liberação da cascata de coagulação com o contato do sangue no tubo de coleta. Como resultado do sangue centrifugado, o tubo é divido em 3 porções. Sendo a porção superior do tubo preenchida pela concentração de fibrinogênio, correspondendo ao soro sanguíneo, na porção central encontra-se o coágulo de fibrina e a porção inferior é representada pelos glóbulos vermelhos (DOHAN et al., 2006a, 2009, 2010, 2018).

O L-PRF é constituído principalmente por uma matriz densa de fibrina, plaquetas, leucócitos e citocinas leucoplaquetárias. Do sangue total, 97% das plaquetas e mais de 50% de leucócitos são incorporados na matriz de fibrina do L-PRF. É considerada a segunda geração dos agregados plaquetários e tem como função acelerar e melhorar a qualidade da reparação tecidual e modulação da resposta inflamatória (DOHAN et al., 2010).

A morfologia tridimensional com junções equiláteras da rede de fibrina do L-PRF, permite o aprisionamento intrínseco de plaquetas e citocinas que são liberadas gradualmente durante o processo de cicatrização por um período de sete a 14 dias. Além disso, funciona como um arcabouço para migração, proliferação e diferenciação celular e entrega de citocinas, tais como: fatores de crescimento derivado de plaquetas e interleucinas leucocitárias. Os fatores de crescimento contribuem para a formação óssea e no reparo e remodelação tecidual, são essenciais na regulação da migração, proliferação e sobrevivência de células mesenquimais, aumentam a vascularização tissular, estimulam a quimiotaxia e a angiogênese endotelial. A presença dos leucócitos são tão importantes quanto as plaquetas e não provocam a inflamação, eles proporcionam uma característica imunológica, com capacidade de estimular os mecanismos de defesa e regulação inflamatória (DOHAN et al., 2006a, 2006b, 2006c, 2018).

Algumas das principais indicações descritas na literatura estão os procedimentos de preservação de rebordo alveolar (ANWANDTER et al., 2016; CANELLAS et al., 2018), reparo periodontal e de tecido mole (MIRON et al., 2017a; 2017b), cicatrização de tecidos duros e moles e redução do desconforto pós-operatório (CASTRO et al., 2017a). Possui efeitos benéficos na regeneração óssea (CHOUKROUN et al., 2006a), melhora a reconstrução da fenda alveolar em paciente fissurado, reduz a reabsorção óssea marginal do implante (CASTRO et al., 2017b) e diminui o tempo de cicatrização em cirurgias de aumento do seio maxilar (CHOUKROUN et al., 2006b; CANELLAS et al., 2018). Estes estudos evidenciam que esse biomaterial pode ser muito promissor e utilizado em algumas situações da prática cirúrgica favorecendo o processo de cicatrização de tecidos moles e duros, beneficiando o paciente ao proporcionar um maior conforto e uma melhor previsibilidade do tratamento.

A utilização da L-PRF ou fibrina leucoplaquetária autóloga pelos cirurgiões-dentistas, seguem as determinações da resolução 158/2015 do Conselho Federal de Odontologia (CFO), que regulamenta o uso dos agregados plaquetários autólogos não transfusionais e autoriza a venopunção para finalidade exclusiva da Odontologia. Contudo é necessário competência técnica para a realização do procedimento de venopunção, que pode ser comprovada por meio de diplomas, declarações, certificados e congênere (CFO, 2015).

Devido ao baixo custo, sem contra-indicações e pela facilidade de obtenção dentro do próprio ambiente ambulatorial do cirurgião-dentista, parece ser uma opção viável como coadjuvante do reparo e regeneração tecidual em cirurgias orais. Sendo favorável que o procedimento de venopunção seja realizado por um profissional experiente para oferecer uma maior segurança do paciente e do cirurgião-dentista. Além disso, proporciona uma maior garantia de que a coleta seja realizada em tempo adequado.

Pode-se concluir que a L-PRF é um coágulo natural de sangue autólogo potencializado, constituído de uma arquitetura de fibrina forte, elástica e flexível que forma um arcabouço tridimensional e favorável a migração e adesão celular. Sendo dotada de citocinas leucoplaquetárias de liberação lenta com características imunológicas e capacidade de estimular os mecanismos de defesa, regulação inflamatória e hemostasia local.

REFERÊNCIAS

ANWANDTER A, BOHMANN S, NALLY M, CASTRO AB, QUIRYNEN M, PINTO N. Dimensional changes of the post extraction alveolar ridge, preserved with leukocyte- and platelet rich fibrin: a clinical pilot study. J Dent; 52:23–9; 2016.

AGRAWAL, AMIT ARVIND. Evolution, current status and advances in application of platelet concentrate in periodontics and implantology. World Journal Of Clinical Cases, [s.l.], v. 5, n. 5, p.159-171, 2017.

CANELLAS JVDS, MEDEIROS PJD, FIGUEREDO CMDS, FISCHER RG, RITTO FG. Platelet-rich fibrin in oral surgical procedures: a systematic review and meta-analysis. Int. J. Oral Maxillofac. Surg. 2018;

CASTRO A. B., MESCHI N., TEMMERMAN A., PINTO N., LAMBRECHTS P., TEUGHELS W., & QUIRYNEN M. Regenerative potential of leucocyte´s and platelet-rich fibrin. Part A: Intra-bony defects, furcation defects and periodontal plastic surgery. A systematic review and meta‐analysis. Journal of Clinical Periodontology, 44(1), 67–82; (2017a).

CASTRO A. B., MESCHI N., TEMMERMAN A., PINTO N., LAMBRECHTS P., TEUGHELS W., & QUIRYNEN M. Regenerative potential of leucocyte and platelet-rich fibrin. Part B: Sinus floor elevation, alveolar ridge preservation and implant therapy. A systematic review. Journal of Clinical Periodontology, 44(2), 225–234; (2017b).

CHOUKROUN, JOSEPH & ADDA, F & SCHOEFFLER, C & VERVELLE, A. Une opportunit?? en paro-implantologie: Le PRF. Implantodontie. 42. 55-62; 2001.

CHOUKROUN J, DISS A, SIMONPIERI A, GIRARD MO, SCHOEFFLER C, DOHAN SL, et al. Platelet-rich fibrin (PRF): a second-generation platelet concentrate. Part IV: clinical effects on tissue healing. Oral Surg. Oral Med. Oral Pathol. Oral Radiol. Endod., v. 101, n. 3, p. 56-60; 2006a.

CHOUKROUN J, DISS A, SIMONPIERI A, GIRARD MO, SCHOEFFLER C, DOHAN SL, DOHAN AJ, MOUHYI J, DOHAN DM. Platelet-rich fibrin (PRF): a second-generation platelet concentrate. Part V: histologic evaluations of PRF effects on bone allograft maturation in sinus lift. Oral Surg. Oral Med. Oral Pathol. Oral Radiol. Endod., v. 101, n. 3, p. 299-303, Mar. 2006b.

CHOUKROUN J, GHANAATI S. Reduction of relative centrifugation force within injectable platelet-richfibrin (PRF) concentrates advances patients’ own inflammatory cells, platelets and growth factors: the first introduction to the low speed centrifugation concept. Eur J Trauma Emerg Surg. 44:87-95; 2018.

C.F.O., Conselho Federal de Odontologia. Assembleia Legislativa. Atos Normativos nº 158, de 8 de junho de 2015. Regulamenta O Uso de Agregados Plaquetários Autólogos para fins não transfusionais no âmbito da Odontologia. Brasília, 2015.

DOHAN DM, CHOUKROUN J, DISS A, DOHAN SL, DOHAN AJ, MOUHYI J, GOGLY B. Platelet-rich fibrin (PRF): a second-generation platelet concentrate. Part I: technological concepts and evolution. Oral Surg. Oral Med. Oral Pathol. Oral Radiol. Endod., v. 101, n. 3, p. 37-44, Mar. 2006a.

DOHAN DM, CHOUKROUN J, DISS A, DOHAN SL, DOHAN AJ, MOUHYI J AND GOGLY B. Platelet-rich fibrin (PRF): a second-generation platelet concentrate. Part II: platelet-related biologic features. Oral Surg. Oral Med. Oral Pathol. Oral Radiol. Endod., v. 101, n. 3, p. e45-50, Mar. 2006b.

DOHAN DM, CHOUKROUN J, DISS A, DOHAN SL, DOHAN AJ, MOUHYI J AND GOGLY B. Platelet-rich fibrin (PRF): a second-generation platelet concentrate. Part III: leucocyte activation: a new feature for platelet concentrates? Oral Surg. Oral Med. Oral Pathol. Oral Radiol. Endod., v. 101, n. 3, p. e51-5, Mar. 2006c.

DOHAN EHRENFEST DM, RASMUSSON L, ALBREKTSSON T. Classification of platelet concentrates: from pure platelet-rich plasma (P-PRP) to leucocyte- and platelet-rich fibrin (L-PRF). Trends Biotechnol.;27(3):158-67; 2009.

DOHAN EHRENFEST DM, DEL CORSO M, DISS A, MOUHYI J, CHARRIER JB. ThreeDimensional Architecture and Cell Composition of a Choukroun’s Platelet-Rich Fibrin Clot and Membrane, Jornal Periodontol, v. 81, n. 4, p. 546 – 555; 2010.

DOHAN EHRENFEST DM, PINTO NR, PEREDA A, JIMÉNEZ PAULA, CORSO DEL MARCO, KANG BYUNG-SOO et al. The impact of the centrifuge characteristics and centrifugation protocols on the cells, growth factors, and fibrin architecture of a leukocyte- and platelet-rich fibrin (L-PRF) clot and membrane. Platelets. 2: 1–14; 2018.

MIRON, R. J., ZUCCHELLI, G., PIKOS, M. A., SALAMA, M., LEE, S., GUILLEMETTE, V., & CHOUKROUN, J. Use of platelet-rich fibrin in regenerative dentistry: A systematic review. Clinical Oral Investigations, 21(6), 1913–1927; 2017a.

MIRON, R. J., FUJIOKA‐KOBAYASHI, M., BISHARA, M., ZHANG, Y., HERNANDEZ, M., & CHOUKROUN, J. Platelet rich fibrin and soft tissue wound healing: A systematic review. Tissue Engineering Part B Reviews, 23(1), 83–99; 2017b.

OLIVEIRA, LA; BUZZI, M; LEÃO, MP; ANDRADE, PCAR; KUCKELHAUS, S. Ultrastructural morphological characterization of the autologous leuko-platelet fibrin matrix in association with xenogenic and alloplastic biomaterials for bone grafting. Fibrin® Protocol. Revista Catarinense de Implantodontia, 18, 24–33, 2018

OLIVEIRA EMF, VITORINO NS, FREITAS PHL, WASSAL T, NAPIMOGA MH. Uso de proteínas recombinantes na reconstrução de maxilares. Rev Gaúcha Odontol. 59(3):491-6; 2011.